sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O trigo e o joio

     O texto bíblico é  Mateus 13.24 - 30, 36 - 43. Muito conhecido por sinal, mas sempre  vivo e atual.
Ao ler o capítulo 13 de Mateus, no versículo 2 vemos "muita gente" aos pés de Jesus ansiosos por ouvir Suas Palavras. Muitos dos que ouviram, com certeza, sairam sem entender o que Jesus ensinava. O mesmo não se pode dizer dos discípulos, que tiveram a parábola do semeador explicada por Cristo por iniciativa do Mestre e quando não entenderam a parábola do joio e do trigo "chegaram ao pé Dele" (v. 36) dizendo: "Explica-nos a parábola do joio do campo." Bem aventurado aquele que tem comunhão com o Senhor, que não fica só na superfície, mas busca conhecer mais de Deus. Há uma diferença muito grande entre "muita gente" que fica aos pés de Cristo e os verdadeiros discípulos que se chegam aos Seus pés e reclinam a cabeça em Seus ombros.
     Vejamos a parábola em questão. O semeador da boa semente é Cristo. O campo é o mundo ou a igreja de Cristo espalhada na Terra (M. Henry). A boa semente são os filhos do reino. O joio são os filhos do maligno. O inimigo é o semeador do joio. A ceifa é o fim do mundo. Os ceifeiros são os anjos. (v. 36 - 39). O texto bíblico explica-se por si só.
     Quero me ater entre os versículos 24 e 30. A bíblia diz que a boa semente foi semeada. Ela tem germinado entre os séculos, vencendo as perseguições e o inferno. Sempre há a boa semente, sempre resta um remanescente fiel. Mas eles dormem. Não porque querem, mas porque quanto mais estão perto do fim, mais estão cansados de lutar, e a noite vem, e com ela o sono. No meio desse sono dos ministros de Cristo é que o inimigo se apresentou e semeou o joio no meio do trigo (v.25). Perceba como o inimigo semeou o joio e logo se retirou. Ele age sempre assim, sem ser visto, disfarçado de "anjo de luz" (2 Co 11.13,14).
     Agora temos trigo e joio plantados no mesmo solo, no mesmo lugar. O joio é uma erva daninha que cresce nos campos de cereais, fica tão alto quanto o trigo e tem grande semelhança com ele. Os judeus acreditavam que era um tipo de trigo degenerado, os rabinos o chamavam de "bastardos". As sementes do joio são venenosas para o animal herbívoro e para o homem, causando náuseas, sonolências, convulsões e até a morte. É justamente isso que cresce no meio do trigo. Algo perigoso, intragável e mortal. O costume era deixar que o joio crescesse com o trigo porque no momento certo ele seria distinguido, arrancado e queimado.
     Há hipócritas e falsos crentes que se manifestam facilmente, outros por sua vez só o tempo manifestará. Como já disse, estão entre os torrões, escondidos em uma falsa religiosidade e professando uma fé falsa, raquítica. Parece trigo, mas é joio. O trigo fiel está preocupado: "Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem, então, joio?" A resposta de Cristo tira a responsabilidade do servo fiel, que na verdade dormiu, mas não foi o semeador do joio. "Um inimigo é quem fez isso." Tenho visto muitos pastores fiéis sofrendo com o joio que tem causado mau a obra do Senhor. Adoecem, se estressam, se culpam. Mas o Senhor disse: "Um inimigo é quem fez isso." O zelo pela obra do Senhor impulsiona o trigo legitimo a arrancar logo o joio, porém Jesus o impede, visto não ser um papel do homem. Deixe crescer juntos, trigo e joio, e chegará o tempo de dar frutos. O trigo dará seu fruto e se multiplicará. O joio, quando chega o tempo do fruto nada tem para oferecer, é só aparência. "O trigo sabe quem é, o joio pensa que é. O joio cuida de sua reputação e aparência exterior." O trigo produz frutos (Gl 5. 22-26).
     Chega o tempo de colher os frutos. É chegado o tempo da ceifa. A ordem de Cristo é: "colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar." O joio será atado junto. Todo tipo de pecadores, ateístas, perseguidores, zombadores, matadores de servos fiéis, disseminadores de contenda no meio do campo, falsos crentes, e um grande número de hipócritas. Serão atados e lançados na fornalha de fogo, onde haverá choro e ranger de dentes. Esse é o fim do joio.
    O trigo terá um fim glorioso. "Ajuntai-o no meu celeiro" - disse o Senhor. Mesmo dispersos no campo, serão ajuntados, não atados, e trazidos para o celeiro do Senhor, onde "resplandecerão como o sol" (v.43). Os grãos de trigo serão, então, colocados a salvo, e não serão mais expostos ao vento e ao tempo, ao pecado e a dor, não serão separados, e embora estejam distantes no campo, estarão próximos no celeiro. O céu é um celeiro de grãos, no qual o trigo será não só separado do joio das más companhias, mas separado da palha de sua próprias corrupções.


Samuel Eudóxio.