quarta-feira, 15 de maio de 2013

O que é o pecado segundo a Bíblia? Qual a solução apresentada por Deus para o pecado?


1 João 1



Tácito da G. L. Filho em seu livro “O homem em três tempos” cita o teólogo Emery. H. Bancroft:

“Um acontecimento é uma coisa tão óbvia, como o sol quando brilha como o carvão e sua negrura, como a neve e sua brancura, como o fogo e seu calor, como a calhandra e seu vôo, como o mar e seu movimento, e como a violeta  e seu perfume. O pecado é uma coisa que existe, na realidade, seja latente nos vulcões adormecidos da natureza humana, seja patente na devastadora paixão ardente do homem.”
Alguns termos para pecado no Antigo Testamento:
 
A – “Chata” – É a palavra mais característica e significa errar o alvo. É a palavra hebraica que designa o pecado em geral; o pecador erra o alvo, desvia-se do caminho que Deus coloca diante dele. O homem se inclina a errar o alvo, ele deseja; há uma disposição nele p´roprio que o leva a errar o alvo. Este termo é usado para demonstrar tanto a disposição para pecar como o ato resultante. Gn 4.7; Lv 4.22,24; 16.21; Sl 1.1; 51.4; 103.10; Is1.18; 38.17; Dn 9.16; Os 12.8


B – “Pasha” – transgredir, invadir, ir além, rebelar-se. O homem forçou e foi além dos limites estabelecidos pela justa lei de Deus. Gn 31.36; 50.17; Ex 22.8; 1 Sm 24.12


C – “Rasha” – significa ser ímpio, ser solto ou mal ligado; ser ruidoso ou tumultuoso. A pessoa desconjuntada é anormal, cambaleia, balanceando a cabeça; no sentido espiritual o pecador também é assim: ele cambaleia, treme e se arrasta. Is 57.20,21; Sl 18.21; Ml 3.15,18


D – “Ma’al” – significa transgredir; ser culpado de quebrar uma promessa ou não cumprir a palavra; envolve infidelidade e traição. Ás vezes significa que o homem planeja a traição, ou a quebra de sua palavra contra Deus e sua elevada vocação. Lv 16.16,21; 26.40; Nm 5.6; 31.16; Dt 32.51; 2 Cr 26.18; 29.6


Outros termos: “Ra’a” (ser mau, quebrar ou danificar por métodos ou meios violentos – Gn 2.9; Ex 33.4; Pv 1.16); “Avah” (perverso; entortar ou torcer a lei de Deus – Gn 15.16; Ex 20.5; Lv 26.40; 1 Sm 3.14; Jó 20.27; Jr 2.22); “Ramah” (enganar; derribar; prender na armadilha – Sl 32.2; 34.13; 55.11; Jó 13.7; Mq 6.12); “Pathah” (seduzir; ser aberto – Dt 11.16; Jó 31.27; Sl 76.36; Pv 1.10; 16.29)


Alguns termos para pecado no Novo Testamento:
 
A – “Adikia” – significa injustiça, maldade, incorreção, praticar más obras. 2 Co 12.13; Hb 8.12; Rm 1.18; 9.14; 1 Jo 5.17


B – “Hamartía” – palavra mais usada no NT; é a que melhor se traduz por pecado; significa transgredir, praticar más obras, pecar contra Deus. Hb 1.3; Mc 2.5; Jo 9.41; Rm 5.12; Hb 3.13


C – “Anomía” – ilegalidade, insubordinação, desenfreiamento. Rm 6.19; 


D -  “Apistía” – infidelidade, falta de fé ou resistência á fé com obstinação. Rm 3.3; Hb 3.12; 1 Tm 1.
13.

E – “Asebia” – impiedade ou falta de reverência. 2 Tm 2.16


F – “Aselgeia” – licenciosidade, relaxamento, sensualidade. Jd 4


G – “Epithumía” – desejo (somente o contexto pode indicar se o desejo é bom ou mau). Aparece em Lc 22.15 e Tg 1.14, indicando que o desejo em si não é mau; o é somente quando envolvido pelo egocentrismo, por uma relação inadequada com Deus, outras pessoas ou outros interesses.


H – “Ejthra” – sentimentos ou ações hostis, ou seja, inimizade. Tg 4.4; Ef 2.14-16;; Rm 8.7


I – “Kakía” – perversidade ou depravação oposta á virtude; descreve o caráter e a disposição e não somente o ato exterior do pecar. 1 Pe 2.16; Mt 6.34


J – “Parábasis” – termo usado somente umas oito vezes no NT; significa transgressão, passar os limites, violar a lei, consciente ou voluntariamente. Rm 4.15; 5.14; Hb 2.2; 1 Tm 2.14


L – “Poneria” – perversidade, baixeza, malícia, é semelhante a “kakía”, e aparecem juntas em 1 Co 5.8

Em suma, pecado é errar o alvo proposto por Deus, perder o foco de nossa santidade. É desviar dos retos caminhos do Senhor. É aborrecer a Deus. O pecado afasta o homem de Deus; faz divisão entre a criatura e o criador, de maneira que torna-se um bloqueio impeditivo para a resposta de Deus até mesmo ás nossas orações (Is 59.1-3). Pecar é manchar a alma, como uma nódea. Pecar é praticar atos contrários á fé cristã. É dizer que está com Cristo e não andar com Ele. É andar segundo a carne e seus desejos e não segundo o Espírito (Gl 5.16,17). Pecar é morrer espiritualmente (Rm 6.23).


O que João diz acerca do pecado e a solução apresentada pela Palavra de Deus.
 
A – Deus é luz, e nos chama das trevas para luz. 1 Jo 1.5,6; 1 Pe 2.9

B – Quem diz que tem comunhão com Deus deve abandonar as obras das trevas, o pecado. 1 Jo 1.6

C – O “andar” na luz é um estilo de vida com santidade; sempre; constante. 1 Jo 1.7; 2 Jo 6; Sl 1.1; Jó 1.8

D – A vida de santidade leva-nos a ter comunhão com os irmãos; quem vive em pecado evita a comunhão com os santos. 1 Jo 1.7

E – O pecado leva a ausência da comunhão com Deus. Há uma condição para se ter comunhão com Deus: “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está...”. Precisamos andar na direção do Senhor, conforme Sua Palavra. Não tem como andarmos nas trevas, enquanto Deus é luz, e dizermos que temos comunhão com Ele. O homem entregue ao pecado está alienado da vida de Deus (Ef 4.18); alienado da comunidade do povo da aliança (Ef 2.12; 1 Jo 1.7); alienado das exigências de sua própria consciência (Cl 1.21).

F – O sangue de Jesus é o agente purificador de nossos pecados. “Todos”. 1 Jo 1.7

G – O homem que diz que não tem pecado, engana-se a si mesmo. Os gnósticos acreditavam que todo pecado cometido na carne não era considerado ofensa contra Deus. Portanto, praticavam todo tipo de iniqüidade possível e diziam: “Não temos pecado.” 1 Jo 1.8

          Precisamos ter cuidado para não nos iludirmos e negarmos nossos pecados. Quanto mais  os vemos, mais devemos estimar e valorizar a correção.

H – Devemos confessar constantemente nossos pecados ao Senhor e crer no seu perdão. 1 Jo 1.9

          O cristão deve reconhecer e confessar seus pecados a Deus. Se não o faz, ele corre o risco de se “acostumar” com a vida pecaminosa e não dar mais ouvidos ao Espírito Santo que o chama ao arrependimento e concerto. Não podemos correr o risco como Faraó que escolheu passar mais uma noite com as rãs (Êx 8.1-15). As rãs estavam em toda parte, nos dormitórios, nas camas, nos fornos de pães, nas amassadeiras, na casa dos senhores e dos servos. A praga era geral. Moisés propõe a Faraó que oraria e as rãs iriam embora, e pergunta quando poderia orar. Faraó responde: “Amanhã.” Existem pessoas que já se acostumaram com o pecado e o tratam como parte de suas vidas, e estão sempre adiando o momento de abandoná-lo. Perdão de pecados não é para amanhã, é para agora. Há perdão agora, “se confessarmos” os nossos pecados, pois Jesus “é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. (1 Jo 1.9)

I – A negação de nossos pecados é anular a cruz e a Palavra de Deus. 1 Jo 1.10

          O próprio Deus disse que “a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” (Gn 8.21). falar que o homem não tem pecado é negar a afirmativa do próprio Deus e desprezar o meio que Ele mesmo proveu para remissão da humanidade, o sacrifício do próprio Filho. Dizer que não tem pecado é abandonar todos os princípios e efeitos da Palavra de Deus em nós. A Bíblia, de Genesis a Apocalipse, aponta o homem como pecador e o sacrifício de Jesus como o único meio de salvação do homem. Negar o pecado é dizer-se auto-suficiente, independente de Deus e alienado de Sua Palavra.

J – O cristão  tem Jesus como seu Advogado e propiciação, caso incorra em pecado e no erro. 1 Jo 2.1,2

          O propósito de João é manter seus leitores afastados do pecado, mas sabe que em algum momento poderão pecar. Por isso, ele apresenta a dupla provisão de Deus para restaurar os cristãos pecadores. Primeiro, Ele nomeou Jesus como nosso Advogado. Segundo, como propiciação pelos nossos pecados (Rm 3.25). A figura e papel de um advogado é bem conhecida por todos. Seu papel é defender o réu diante de um juiz, anular a pena proposta por lei. E a propiciação?

          Propiciação vem da palavra grega “hilasterion”, é aquilo que expia ou propicia. Essa palavra tem referência com o lugar da propiciação, mais conhecido como o propiciatório (Hb 9.5). O propiciatório era a cobertura ou a tampa da Arca do Concerto do povo de Israel. No dia da Expiação (Lv 16.14), o sumo sacerdote, representando a si mesmo e o povo, entrava no Santo dos Santos (Lugar Santíssimo), tendo nas mãos uma bacia contendo o sangue do animal morto para expiação. Depois de chegar ao Lugar Santíssimo, e depois de todo o propiciatório ter sido coberto pela fumaça do incenso, o sumo sacerdote molhava o dedo no sangue e aspergia o propiciatório. Figuradamente, Cristo entrou no lugar Santíssimo como sumo sacerdote (Hb 7.25-27), e com seu próprio sangue cobriu (expiou) os nossos pecados da presença de Deus (Hb 9.11,12)

          O termo propiciatório é também entendido como o modo de acalmar, aplacar a ira divina, e isto só o sangue de Jesus foi capaz de realizar.

          Portanto, Jesus é o nosso propiciatório, o lugar onde nossos pecados são apagados. Essa operação expiatória independe de atos humanos, visto que nada podemos fazer para escapar á justiça de Deus. É um ato de justiça que só o Filho de Deus pode fazer (1 Jo 4.10).

        Iniciamos descrevendo o pecado do homem e sua incapacidade de resolver, sozinho, sua situação espiritual diante de Deus. Terminamos apresentando Cristo, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Ele é a nossa Reconciliação com Deus (Ef 2.13-19).

          Até aqui vimos que João apresentou Jesus não só como homem, mas também como verdadeiro Deus, apontou o homem como pecador e lhe apresentou a solução dos pecados através do Sangue de Jesus. Agora, João chama os seus leitores para um grande desafio: viver a Palavra, e não apenas professá-la.

Em Cristo,

Samuel Eudóxio

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