domingo, 15 de dezembro de 2013

A instabilidade do ministério integral atual



O grande desafio para jovens obreiros vocacionados ao ministério é se devem ou não “viverem da obra”. Constantemente encontros obreiros que se dividem entre as tarefas cotidianas, emprego secular e a obra ministerial, os chamados “obreiros de tempo parcial”. Estes, em seus tempos de folga dedicam-se a obra do Senhor, e não são poucos os que fazem uma grande obra, mesmo em tempo parcial. Por outro lado, há os “obreiros de tempo integral”, os que vivem do salário e sustento da igreja. É uma vida de desafios, fé, trabalho e confiança no Senhor.


O princípio do ministro assalariado está nitidamente esboçado por Paulo, em 1 Coríntios 9. A passagem Bíblica deixa claro que o ministro tem o direito de ser sustentado, para que possa devotar todo o tempo necessário ao ministério. É importante ressaltar que o ministro recebe o salário não porque é “ministro”, mas porque presta um serviço á Igreja do Senhor. Não são raros os pastores e missionários que abriram mão de bons salários e vida profissional para se dedicar unicamente a obra ministerial. Como não serem, portanto, assalariados pela igreja? Jesus ao enviar os setenta ensinou que “digno é o obreiro de seu salário” (Lc 10.7), e a igreja deve fazer o seu papel de manter os seus pastores em condições dignas de prestar-lhes o serviço sacerdotal. Mas, até onde o “ministério de tempo integral” é uma garantia para o pastor e sua família?


Que ministério não é cabide de emprego todos sabem, mas com toda certeza o serviço eclesiástico deve cercar o ministro de garantias para a sua vida futura. Conheço um bom número de pastores que estão a 30 (trinta), 40 (quarenta) anos no ministério. Abriram mão de tudo para cumprirem o seu chamado, sua vocação. Seria justo, no final da vida, esses obreiros serem desamparados ou esquecidos pela igreja a qual dedicaram toda a sua vida? Claro que não. Alguém pode questionar o porquê de muitos destes obreiros não construírem, eles próprios, uma garantia para o futuro. A resposta é simples. A maioria de nossos ministros vive com salários modestos, com o suficiente para a subsistência de sua família, diga-se entre R$700,00 e R$1.200,00. Agora, me diga, como um obreiro que ganha esse salário, criando filhos, será capaz de construir uma garantia para o futuro? Dificilmente. Não se engane, a vida da maioria dos ministros de tempo integral é modesta e cercada de necessidades, que são supridas dia a dia pelo Senhor. Não tenhamos em mente apenas o ministério próspero de poucos pregadores e tele-evangelistas. Na verdade, a vida do ministro de tempo integral atual está cercada de grande instabilidade, e porque não falar em incertezas. Por parte de Deus? Não, dos homens.


Hoje, meia dúzia de palavras é o suficiente para que um pastor seja retirado de sua função. Se o ministro não estiver pastoreando de acordo com o desejo do povo, este se levanta e pede a sua retirada da igreja local. Não precisa muito. Está comum grupos se levantarem nas igrejas para assumirem a liderança, e levarem as suas causas até mesmo na justiça, desapossando pastores e líderes de suas posições. Obreiros que não querem mais “deitar água” nas mãos de seus pastores (2 Rs 3.11), pelo contrário, juntam-se a congregação de Corá (Nm 16.1-3) e levantam-se contra a sua liderança. Infelizmente, muitas dessas vozes têm força em nossos dias, quer por causa das influências ou favores devidos, e a voz do líder é calada, e seu ministério desconsiderado. Com isto, pouco importa “os seus anos de casa”, serviços prestados ao Reino, sofrimentos por amor a causa de Cristo, a história passada, igrejas implantadas, projetos de sucesso, nada disto importa. Prevalecerá a voz da incompreensão e da ingratidão. O ministério de tempo integral é um desafio para poucos, pois que nem todos estão preparados para “tomarem o cálice” que estes homens de Deus têm tomado.


Pastores integrais, que o Senhor seja contigo nos dias maus que vivemos. Que a provisão de Deus esteja sobre a sua casa e sua família. Que a sua geração seja abençoada e protegida pelo Senhor. Não desanime em meio às crises. Não desfaleça diante das adversidades. Siga em frente, crendo que em meio a tantas instabilidades, o que vos chamou permanece Fiel (1 Ts 5.24) e completará em vós toda a boa obra (Fp 1.1-6). Permaneça fiel,  esperando firmemente aquele dia em que ouvirá do Senhor da Seara: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.” (Mt 25.21)

Em Cristo,

Samuel Eudóxio